Minha Casa...Minha Alma...

Viagem com Tânia por um mar desconhecido...

Textos


MORTES QUE MUITO ME MARCARAM 3: Como perdí Meu Pai!

             Teria muita coisa mesmo para relatar sobre minha vivência com meu pai mas hoje vou me deter em relatar seu desenlace da vida terrena.
             E começo dizendo que meu pai era um homem muito sério. Quando eu nasci ele já era velho. Tinha idade de ser pai de minha mãe. Falava pouco e tinha um hábito que eu considerava interessante. Ele sentava e ficava instantes olhando para as próprias mãos. Sempre que nascia um irmão meu torcíamos pra que nascesse com os olhos dele. Azulzinho como o céu.
              Quando eu era bem pequena a coisa que mais me dava orgulho era vê-lo vestido na farda do exército. Principalmente que a boina verde que deixava os olhos dele oscilando entre a cor azul e esverdeado...Como eu amava meu pai!
               Nunca bateu em mim. Ele dizia que mulher já sofre demais...
               Seu nome era Antônio Satiro de Oliveira. Mesmo nome de meu avô e depois de meu irmão mais novo que eu. Meus tios,  irmão dele tinham no nome também Aquino. Papai não recebeu esse sobrenome porque continuou com o tradicional nome dos Antonios Satiros que antecederam a ele. Já meus avós que eram primos legítimos além de Oliveira, Aquino e Satiro também tinham  Almeida. Resumindo: os nomes de família de meus ancestrais na linhagem de papai eram: Oliveira, Satiro, Aquino e Almeida.
              Ele tinha os olhos meio apertadinhos puxou a minha bisa que era japonesa da família “satiro” com o "o"pronunciando ô. Fiquei surpresa quando titio Adeildo me contou isso porque eu sempre fui fascinada pela cultura Japonesa. Nem sabia que tinha japoneses no meu sangue.
              Bem, mas falando de meu pai posso citar muitos fatos muitos contos, alguns deles cauboy, risos, outros de pura ternura e cumplicidade que escreverei em outras crônicas mas aqui deixarei uma delas: Desde criança que gosto de ler. Devorava os romances de mamãe depois os da UESA em Viçosa. Um dia li Anne Shirley a historinha de uma menina do cabelo vermelho. Como fiquei encantada com a personagem que era ruiva, andava com um paninho vermelho no cabelo dizendo que era eu a Anne. Bom, um dia papai foi para a capital resolver os negócios dele e na volta trouxe uma boneca especial com ele: uma do cabelo vermelho. Alguém pode achar isso bobagem mas para mim foi um ato extremo de sensibilidde e amor. Fiquei tão emocionada que chorei.
                 Mas o que registro hoje é a nossa despedida. Eu estava com mamãe em Crus das Almas na casa dos amigos  dele: Berenice e Figueiredo. Ele veio e pediu para eu ir com ele ver a casa que mamãe havia trocado por uma que ele havia comprado e colocado no nome dos filhos de menor. Gostou muito e me falou da satisfação de deixar uma casa só nossa...pra o "nosso futuro". Depois me pediu pra ir com ele até o ponto do ônibus. Falou que iria viajar pro Recife pra casa de uma irmã minha por parte de pai, a Cleuza. Ele disse que iria operar da uretra e depois voltaria. Era uma cirurgia simples...coisas assim.
              Ao nos despedirmos senti um aperto no coração, como uma espécie de premonição puxei ele e disse : -Vai nesse ônibus não pai fica mais um pouco comigo. Vai no outro. Ele ficou me olhando, simplesmente. Quando o outro ônibus chegou, sem dizer nem uma palavra, ele deu o rosto pra eu beijar, acenou e com um olhar inconfundível de adeus foi embora...
            Fiz até essa poesia:
O ADEUS DE PAPAI
Quando meu papai se foi
Teve tempo de dizer adeus
Ele falava com os olhos
Eu escutava ...com os meus
A tristeza era tão grande
Que pedi ajuda a Deus
Mas nunca entendi direito
Como aquilo aconteceu
O meu choro incontido
Vi que papai entendeu
Pois no fundo ele sabia
Que ali era o adeus
Foi tão triste o momento
Que levou ...
Meu pai pra semprec
Até hoje não entendo
Como tudo ali se deu
Vi só uma dor inconsolável
Impregnando aquele adeus
Desde então fiquei sem prumo
Pela falta que ele me fez
                 Bem, quase um mês depois eu recebi a notícia que ele havia desaparecido. Minha irmã falou  que ele saiu pra receber o resultado de um exame e não voltou. E quando ela  foi procura-lo só encontrou o corpo no necrotério morto, amarrado, esfaqueado em alto grau de putrefação. Mataram ele e jogaram no rio Capibaribe.
                 Sobre a dor? Impossível escrever sobre ela...

 
 
 

 
Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 31/08/2014
Alterado em 02/07/2015


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras