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Viagem com Tânia por um mar desconhecido...

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MORTES QUE MUITO ME MARCARAM: 1. Serginho meu irmão!
Por: Tânia de Oliveira
Éramos afins além de irmãos. Ele muito vaidoso gostava de dizer para as pessoas....minha irmã além de filósofa é campeã de xadrez. Na realidade eu não era nem uma coisa nem outra. Apenas sua irmã mais velha.
Um belo dia ele estava assistindo “sessão da tarde” quando dormiu. Acordou aos gritos, todo suado dizendo : - Mamãe estou vivo, fale comigo, estou vivo! Mamãe chegou até ele, mandou que se acalmasse e ele foi contando o sonho que acabara de ter.
- Mãe sonhei que estava dirigindo um fusca branco e quando passava frente ali ao Orfanato São Domingos, eu bati de frente com “Um caminhão FNM”. Bagaceira total, mãe! Num segundo vi meu corpo ensanguentado no carro todo amassado e ao mesmo tempo me vi inteiro sem ferimento, sem sangue algum. Vi pessoas conhecidas correndo para perto do acidente, mas ninguém me via. De repente a paisagem de minha frente sumiu e vi um campo com uma casa de taipa. Ao me aproximar uma senhora com olhar meio displicente saindo da casa disse para alguém que eu não via:- chegou mais um! Nesse momento eu entendia que havia morrido. Ajoelhei-me no chão e rezei dizendo: - Meu Deus, sei que nunca fui de andar rezando mas nesse momento te peço Senhor, permita que eu vá até minha mãe para avisar que estou bem. Ela deve estar apavorada com o que me aconteceu. Aí mãe eu cheguei aqui num segundo. Vi meu caixão aqui na sala. A Tânia, o Tonho ( nessa época meu irmão morava no Rio de Janeiro) todos chorando. Eu falava que estava bem mas ninguém me ouvia. Mamãe o acalmou dizendo que isso era coisa de sonho, e afastou-se com ar preocupado.
Na época desse sonho Sérgio nem sabia dirigir. No mesmo semestre ele conseguiu um emprego na empresa Drumond, que seu amigo Chico Feitos arranjou. De auxiliar de contadoria. Ele havia feito o Curso Técnico em Contabilidade. Em poucos meses conseguiu se sobressair. O contador da empresa mudou-se para Recife e deixou a contadoria do grupo com ele: a Drumond, a Boate Cavuco e o Hotel Ponta Verde. Fizeram um acordo. Ele só viria assinar.
Sérgio alugou uma casa grande em Bebedouro, e o andar de cima seria meu e de meu ex-marido, que era amigo dele. Mamãe, ele e meus irmãos Servinho, Albinha e Mabel , ficariam com o andar de baixo. E assim foi. Na época também morava conosco um primo nosso Oliveirinha, que era da Polícia Civil.
Sérgio era um pessoa muito generosa. Logo tratou de comprar um carro, um fusca amarelo com a intenção de deixar meu esposo dirigindo enquanto ele não conseguia emprego. Ambos aprenderam a dirigir nesse carro.
Assim, trabalhando ele resolveu derrubar uma casa que papai nos deixou em Cruz das Almas, aqui em Maceió, pois queria fazer o alicerce estruturado para que em cada andar fossemos construindo a nossa casa. O Edifício dos Oliveiras, sonhava ele.
Nesse mesmo ano no mês de setembro ele chegou em casa, Dia de Cosme e Damião, apagou as luzes e explicou que estava sujo de sangue pois acidentou-se com o carro e a namorada feriu-se sem gravidade. Após acalmar a todos nós principalmente a mamãe, sentou-se junto a nós e falou pensativo: - Ainda não foi agora mas sinto que vou morrer cedo. Só tem uma vantagem morrer cedo. É que não vamos ver nossa mãe morta. Deve ser horrível enterrar a mãe da gente. Ao ouvir aquilo eu falei : - Sérgio se tu tem tanta certeza que vai morrer cedo então me promete que se isso acontecer você volta pra me dizer se existe vida além da morte! Ele respondeu que eu iria ter medo dele e eu respondí que dele, jamais teria medo.
No outro dia Sérgio levou o carro batido para uma oficina e trocou justamente por um fusca branco como o do sonho que ele havia tido. Ao chegar em casa, lembrei do sonho e fiquei tão emocionada que tive “desinteria”! Ele retrucava, pense nisso não deixe pra la.
Bem, isso aconteceu no mês de setembro. Após esse dia ele fez uma viagem ao Rio pra visitar meu irmão Tonho, levou pra ele e trouxe presente para minha ex-cunhada Iraci, pra minha sobrinha Sheyla e pra cada um de nós. Lembro quando foi levar os presentes que ao sair abraçou Iraci dizendo: - Você e seu marido brigam e nem por isso temos que ficar com raiva da família, ne?
Nesse mesmo dia me levou até o orfanato onde eu ensinava e ao sair do carro deixei cair a bolsinha que ele havia me dado de presente. Era um dia de sexta –feira. A namorada dele indagou sobre a mesma e eu respondi: - Essa é a porcaria de presente que ele me trouxe do Rio pra mim. Ele ofendido respondeu: - Porcaria? Procurei essa bolsinha com o maior carinho. Queria lhe dar um objeto de arte. E essa bolsa pra seu governo foi muito cara viu? Sorri, disse que estava brincando e beijei o cangote dele. Aí ele me convidou para ir pra Japaratinga acampar. Pra praia do Boqueirão pescar, tomar banho. Recusei porque nessa época eu estava grávida de seis meses e não queria me aventurar. Assim ele partiu.
Ao chegar no Orfanato onde eu era professora, fiquei impaciente, sem conseguir lecionar. Pedi a minha diretora Marilene para sair mais cedo e me dirigi a casa de minha amiga Clélia que morava em Pajuçara. Chegando la fiquei até tarde conversando sobre o Sérgio. Quando voltei meu marido indagou onde eu estava porque o Sérgio havia me procurado impaciente querendo saber onde eu estava pois ele queria me convencer de viajar com ele. Expliquei sobre meu estado de ansiedade.
Passamos o sábado em casa e no domingo fomos pra casa de minha sogra Alaíde. Eu não consegui ficar quieta. Impaciente pedi pra ela ficar com Claudinho meu outro filho que ainda era pequeno e fui novamente pra casa de minha amiga Clélia. E foi la que conversando, ouvindo o rádio, que ao tocar a Ave Maria, eu gritei de repente: - Deus ...protegei meu irmão, Senhor! Clélia e Vicente irmão dela, me acolheram e disseram que eu precisava ficar calma ...pois o Sérgio deveria está bem. Mas a verdade é que ele não estava.
O sonho que ele havia sonhado praticamente se concretizou. Naquela mesma hora do “meu surto” o acidente aconteceu. Seis horas da noite quando eles vinham do passeio, ele, a namorada, a sogra e os dois cunhados pequenos. Foi num fusca branco como no fatídico sonho. Não foi um “FNM” mas um carro pesado também, um trator. Foi na mesma BR. E para imensa tristeza minha e dos meus ele morreu!


 
Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 21/08/2014
Alterado em 21/08/2014


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