RETALHOS DE SONHOS
Agora saiu do bico de uma ave um canto.
Ouvira-se tudo juntando em um longo arrepio
Parece agora ter saído de sua imaginação
Um remendo nesse canto, agora profundo.
Veio o som, a música, um retalho, um violão
Parte mágica da infinita beleza do mundo;
E a fez então, estremecer em estranha emoção
E de repente parecia dar-se a se conhecer...
Sentia-se parte do todo. Do bambu, do pássaro,
Do melãozinho, da luz que saia do abajur,
Do aparelho eletrônico. Sentia-se parte de tudo.
Sentimentos diversas junta-se a pensamentos mil
Agregando-se amorfos dentro de si!
Uma visão medonha saia daqueles fungos coloridos
Deslocando-se do campo da imaginação
Fazendo velejar agora, por fortes sensações
Até então... desconhecidas.
Nessas horas, reconhece-se deuses
A habitar o mundo mágico da vida, da poesia.
Junta-se a si uma multidão plural
Todos os sentimentos de todos humanos
Desde a paixão, ao pânico. Tudo diverso e tudo igual!
Desde a expansão da vaidade, da glória, infortúnio
Do profano, da soberba, do desejo de poder, do prazer
Quanto à simplicidade, à profundidade do belo,
Da sutileza, da manha, maia, trama, medo
Tudo permeado pela vulnerabilidade, pelo sagrado
De tudo que ainda está em segredo
Chega ao estranhamento de suas próprias possibilidades.
Suspira-se profundo, sentindo-se em uma confusão:
É novamente o raciocínio que se aproxima
Tornando tudo em súbita contradição
Tomando conta e dissipando a leveza da poesia.
Perde-se então esse momento de magia
Morre-se por instantes. Mas a alma revive
Inunda-se, novamente volta a sonhar sempre sozinha
Viver sob comando da alegria e prazer é maestria
O pensamento sintoniza toda uma extasiante alquimia