MOMENTO & PASSAGEM
Dormi agorinha e acordei com mais de cem anos.
Cuidei logo de sair antes que eles dobrassem. O peso daquela idade refletia um cansaço esquisito. Coisa que a gente nem sabe como está sentindo aquilo. De repente tudo estava maior que a si mesmo. Em terra de coisas e pessoas enormes, gigantes. Cheguei a pensar que poderia amar, mas agora já não sei. É que isso de amar agora me parece tão singular. E essas roupas antigas sem cor, nesse cansaço eterno. Nada disso unido combina com o amor presumido. Tanta coisa desconhecida que me apavora, e agora? Um medo "da gota" de não ser boa suficiente para seguir em frente. E aquele monte de coisas novas que não combinam com cem anos. Nem com o estado de estio, desse fastio. E cadê a chuva? E, tantas coisas modernas que não foram aprendidas neste estágio. Foi quando chegou a música e com ela, a salvação da situação. E pode, as coisas acontecerem assim, nesse desatino? Respiração funda, para afastar lembrança de rejeição de mãe. Uma luzinha tênue, uma fresta naquela hora suficiente para a vida. Nuvens se dissipam, elas vêm e se vão.Totalmente sem razão. As vezes claras, as vezes não, mas tudo num silêncio sereno! Vi a tarde mais cristal. Olhei para a luz que saia do coqueiral. Depois lembrei do travesseiro fofinho. Pensei em felicidade. E naquela bela música que falava, tocava e chamava a chuva. Ai! Uma bobagem dizer que não há amor mais aqui. E? O amor está ali quando a gente nem ver. Porque se é feliz? Precisa ver pra crer? Precisa ter? Compreender? Sem responder E senti a ligação de vida crescer, sem saber pra que, nem por que. Foi assim que o medo e o não desejo de amar, pôs-se um fim. Afinal até hoje foi assim. As coisas ruins se dissipavam sempre. Só a alegria sem razão, sem lógica, nunca ficou totalmente ausente! Isso! Isso! A alegria sempre inerente a qualquer estado negativo. Sim! A felicidade sem frescura ou quentura existia em si, sim! Tânia de Oliveira
Enviado por Tânia de Oliveira em 06/04/2017
Alterado em 07/04/2017 |